Grita Liberdade

"Não há lei mais injusta do que a lei da força"

domingo, março 24, 2013

Sócrates e Cavaco



Em termos de táctica politica, José Sócrates e Cavaco Silva, são duas faces da mesma moeda. Ambos planeiam o seu futuro, medindo ao milímetro cada passo que dão.
É óbvio, para qualquer mortal que se interessa por estas coisas da política, que Cavaco Silva não foi à Figueira da Foz fazer a rodagem do carro. Foi com um objectivo bem definido, estudado ao mais ínfimo pormenor, e que lhe correu da forma como foi programado. E melhor: é que da mesma forma como conseguiu vender o peixe “das suas raízes humildes” ainda hoje se fala da rodagem do carro.
Quando Cavaco se apercebeu de que poderia perder as eleições legislativas, construiu o famoso TABU, que acabou por se revelar ruinoso, quer para ele, quer para o PSD que perdeu as eleições para António Guterres. Desta forma, embora muito desgastado e criticado, viu-se obrigado, pela cúpulas laranja, a concorrer às eleições presidenciais, que perdeu para Jorge Sampaio. A partir dai, minuciosamente, preparou o terreno que dez anos mais tarde fez dele Presidente da República.
José Sócrates saiu de cena com a mesma popularidade de Cavaco, que é como quem diz, “nas ruas da amargura”.
Dois anos depois, pela mão dessa coisa que se chama RTP, José Sócrates reaparece, provocando ondas de choque em todos os quadrantes políticos. Até em Espanha é tema de conversa, levando a imprensa de referência a afirmar que “a ninguém passava pela cabeça que no principal canal da TVE, logo após o telejornal da noite, aparecesse o ex-primeiro-ministro José Luíz Zapatero a comentar a actualidade política semanal”.
Mas porque regressa Sócrates? Por uma razão muito simples: colocar-se na linha da frente de candidatos a Presidente da República.
Sócrates sabe que, por um lado, nunca será a primeira escolha de António José Seguro e por outro, António Costa ambiciona esse lugar. Mas sabe também que se Seguro não arranjar um nome forte o lugar lhe pode cair nas mãos. Tal e qual como sucedeu aquando da sucessão de Ferro Rodrigues na liderança do PS: Jorge Coelho, por razões de saúde e António Vitorino, por interesses pessoais, não concorreram ao cargo de secretário-geral do PS, entregando-lhe, de bandeja, o lugar.
Sócrates sabe que António Costa nunca terá coragem de se lhe meter no caminho e desconfia que Guterres, o homem mais desejado, não terá vontade de regressar à política nacional. Por isso pensa: terá o PS um nome mais forte do que o seu?

segunda-feira, março 04, 2013

A Grândola.



É indesmentível que os Portugueses vivem a política como ninguém. Há medida que se vai ouvindo a “Grândola, Vila Morena” mais evidente se torna que as pessoas sentem que têm direitos e, sobretudo, memória do passado.
Dos tempos de estudante recordo, com mágoa, a entrevista dada por uma pessoa que eu admirava e em que afirmava “que se as pessoas conhecessem por dentro o que se passa em determinado partido ele desapareceria”. Senti, na altura, que passando eu tantas e tantas noites (e dias) a defender a causa, não era justo que nos misturassem a todos no mesmo saco. Passados tantos anos, continuo a pensar da mesma maneira, na esperança de que, a exemplo daqueles que cantam nas ruas a “Grândola, Vila Morena”, se arranjem forças para correr com aqueles que fazem da mentira e da corrupção profissão.
Bem sei que é quase uma utopia afastar dos partidos todos aqueles que lá se infiltram com o intuito de tirar dividendos. É até repugnante ter de conviver com gente que desvia dinheiro do erário público, em malabarismos que envolvem empresas públicas e pequenas associações domésticas. Mas não podemos desistir!
No fundo, todos sentimos que aqueles que mais possibilidades têm de defender a causa pública, mais se afastam: ora por falta de paciência, ora por não se quererem imiscuir com “meia dúzia de energúmenos” que mais não fazem do que se aproveitar do cargo que ocupam. Mas temos de continuar a alimentar a esperança.
Há gente boa em tordos os partidos políticos. O que nos separa é a forma de alcançar os ideais que defendemos para a sociedade. E de uma coisa estou certo: qualquer que seja o partido em que se milite devemos ter como ponto de honra afastar todos aqueles que não são sérios e se aproveitam do cargo que ocupam para “encher os bolsos”.
É uma tarefa difícil, mas não impossível. Basta pensar que ao consentirmos estamos a ser iguais, ou piores, do que eles, para arranjar forças para continuar a lutar.

domingo, março 03, 2013

A Concha

 
A minha casa é concha. Como os bichos

Segreguei-a de mim com paciência:

Fechada de marés, a sonhos e a lixos,

O horto e os muros só areia e ausência.



Minha casa sou eu e os meus caprichos.

O orgulho carregado de inocência

Se às vezes dá uma varanda, vence-a

O sal que os santos esboroou nos nichos.



E telhados de vidro, e escadarias

Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!

Lareira aberta pelo vento, as salas frias.



A minha casa... Mas é outra a história:

Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,

Sentado numa pedra de memória.

 O Bicho Harmonioso (1938)

 
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