Grita Liberdade

"Não há lei mais injusta do que a lei da força"

quinta-feira, maio 21, 2009

O Condestável



Portugal, tão esquecido pelo Vaticano no negócio dos santos, vê Nuno Álvares Pereira perder o prestígio de que gozava e, por causa da santidade, passar a ser gozado. Foi um herói que resistiu à apropriação de Sidónio e de Salazar mas, com quinhentos anos de cadáver, não resistiu aos interesses da Igreja e à satisfação dos beatos.

Valeu a vergonha para que o Presidente da República e o presidente da Assembleia da República não fossem mostrados de joelhos em Roma. Para enxovalho já bastou terem dado o nome para a comissão de honra da canonização de Nuno Álvares a cujo espectro se atribui a cura do olho esquerdo de D. Guilhermina de Jesus, queimado com salpicos ferventes de óleo de fritar peixe.

É grave que o Estado tenha sido enredada na cura miraculosa do olho esquerdo de uma devota; é ridículo que os seus mais altos representantes confundam as legítimas crenças individuais com os factos; arruína a reputação de Portugal que, em nome do Estado, se rubrique como verdade um grosseiro embuste de sabor medieval. É abusivo peregrinar, a expensas do tesouro público, para rezar ave-marias durante a canonização e trazer, depois, santinhos para os amigos.

Se D. Guilhermina tivesse rezado quatro novenas, em vez de duas, e passado a noite aos ósculos na imagem do Condestável, teria curado o olho esquerdo e feito a profilaxia das cataratas. O País não carece de médicos, basta que, na altura certa, reze a um beato que esteja em lista de espera para ser canonizado. Portugal, para sair da crise, só precisa de fé, de rezar o terço e da protecção divina.

Respeito os crentes que, à sua custa, foram a Roma esfolar os joelhos e agradecer a deus a cura do olho esquerdo da D. Guilhermina, mas condeno o ministro, deputados e outros dignitários que reclamam a representação do Estado em cerimónias que comprometem a laicidade. Portugal ainda não se emancipou da cumplicidade que, durante a ditadura, a Igreja e o Estado estabeleceram entre si. Os altos representantes deviam usar um cordão sanitário que os abrigasse da vergonha e da falta de ética.

Nuno Álvares foi o herói que a Igreja transformou em colírio rasca para a cura de um olho esquerdo, queimado com óleo de fritar peixe. Com a espada nas mãos não se teria deixado capturar mas, assim, desfeito em cinzas, sucumbiu com duas novenas e deixou-se atravessar por um ósculo de uma beata numa imagem sua.

quarta-feira, maio 20, 2009

Pobre coitada

Liga-se a televisão e não se fala de outra coisa: uma professora, em Espinho, utilizou em sala de aula linguagem menos própria. Mais grave: o tema era sexo.

O povo, aquele povo que em todas as situações exige “sangue” (com isso talvez consiga esquecer os seus próprios problemas) aplaudiu e nem por um momento pensou que aquilo lhe pode acontecer a ele próprio. Basta que alguém se lembre de gravar, no meio de uma conversa inocente, os seus desabafos sobre o que faria à “vizinha” ou à filha do amigo…

Por sua vez, a escola e o Ministério da Educação, suspenderam de imediato a professora (as expressões que utilizou são reprováveis e inaceitáveis).

Pobre país o nosso: aplaude a suspensão da pobre professora e fica indiferente às várias gravações que implicam altas figuras da nação.

segunda-feira, maio 18, 2009

A caminho da Rússia

Foi triste o espectáculo a que ontem assistimos em Braga, quando uma menina de seis anos foi entregue à mãe biológica, por decisão do tribunal competente.

Esta pobre criança, que desde os dois anos se encontrava numa família de acolhimento, tinha sido abandonada devido a problemas de alcoolismo.

Ontem, lamentavelmente, a criança foi entregue no átrio de um prédio sem qualquer tipo de protecção.

Será que vale a pena ter segurança social? E que dizer da actuação cega do tribunal?
 
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